No início da semana trouxemos para vocês a resenha do novo lançamento de Staci Hart, o livro A Little Too Late. Hoje, você poderá curtir um trechinho exclusivo da história, contado sob o ponto de vista de Hannah.
Hannah
A primeira vez que vi Charlie Parker, eu não vi apenas uma coisa por vez; eu vi tudo nele. Foi uma agressão aos meus sentidos, uma onda avassaladora de consciência, e por um momento, os detalhes chegaram até mim em flashes de apenas segundos, mas que pareceram muito mais longos.
Seu cabelo era loiro e delicadamente desordenado, seu rosto longo e nariz elegante. Eu podia sentir seu cheiro, limpo e refrescante com um toque picante que eu não conseguia decifrar. Eu levantei meu queixo — ele era alto, mais alto do que eu, e eu tinha 1,80 de altura — e encontrei seus olhos cor de terra, marrom e tão profundos. Tão, mas tão profundos.
Então ele sorriu.
Ele era lindo quando não estava sorrindo. Ele era irresistível quando estava.
Eu estava tão perdida naquele sorriso que não me dei conta da massa voadora até atingir o meu suéter. Pequenos respingos de algo frio salpicaram meu pescoço.
Foi neste momento que o relógio voltou a funcionar novamente, e a doce serenidade transformou-se em caos.
Um garotinho loiro ao lado de seu pai olhou para mim com um brilho diabólico em seus olhos escuros. A colher em sua mão estava coberta de geléia vermelha, apontada para mim como uma catapulta vazia.
Várias coisas acontecer de uma só vez. A expressão de Charlie se transformou em frustração envergonhada quando ele alcançou o menino que, presumir ser seu filho. O garoto — Sam, adivinhei pelos nomes que foram dados pela agência — girou rapidamente e correu pelo corredor, rindo. Outra criança começou a chorar de algum lugar na casa, e uma vasilha caiu com estrondo no chão, seguida de um palavrão que parecia vir de uma mulher mais velha.
Eu olhei para a bagunça escorregadia e pegajosa no meu suéter branco e comecei a rir.
A cabeça de Charlie se virou para mim, seu rosto coberto em confusão, depois em horror, enquanto ele olhava para a pintura de Pollock no meu agasalho.
"Ah meu Deus," ele suspirou, seus olhos arregalados desculpando-se, enquanto arrastavam-se pelo meu corpo. "Jesus, eu sinto muito."
Eu ainda estava rindo, quase um pouco histérica. Não conseguia nem dizer o porquê.
Eu acenei para Charlie, ele me segurou pelo cotovelo, guiando-me pela casa quando prendi a respiração.
Outro ruído veio da cozinha, e uma garotinha apareceu na entrada, deixando pegadas em pó sobre a madeira.
O rosto de Charlie se contorceu. "Sam!" ele chamou, prolongando a palavra, uma promessa de consequências.
Uma risada barulhenta irrompeu na cozinha.
Nós nos movemos rapidamente. Eu o segui enquanto ele pegava sua filha chorosa e se dirigia para a cozinha. A garotinha me observava através do ombro dele com grandes olhos marrons, a respiração se transformando em pequenos tremores, seu dedinho dentro da boca.
Charlie parou tão de repente que eu quase colidi com ele.
Quando olhei ao seu redor e dentro da cozinha, meu queixo caiu. Cobri minha boca com os dedos quando uma risada brotou em minha garganta.
Uma saco de farinha estava no meio do chão, o pó branco sendo lançado em rajadas contra as superfícies e flutuando no ar como fumaça. O chão próximo ao saco era o único lugar limpo, moldado na forma de um bumbum — o da garotinha, presumi. Uma tigela estava de cabeça para baixo, seu conteúdo escorrendo pela borda e criando um anel do teto ao móvel e ao chão, como se tivesse dado uma cambalhota magistral a caminho do fim. E no meio da loucura estava uma senhora com farinha em seu cabelo escuro e pó dos pés a cabeça. Preso embaixo de seu braço estava Sam se retorcia com a colher ofensiva ainda na mão.
O rosto dela era gentil mas rígido de exasperação. "Por favor, diga que esta é a nova babá," ela disse com franqueza.
"Eu duvido que possamos convencê-la a ficar depois disso," ele disse igualmente sem rodeios.