"Eu o amo, Reese." "Não mude o fato de que você também me ama." |
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Rejeição me invadiu como veneno, matando o meu desejo e
confiança em uma única investida.
Eu afastei minha mão como se tivesse sido queimada,
rolando até estar deitada de costas, meus olhos focados em algum lugar além do
teto. Cameron está tão imóvel ao meu lado, como se estivesse com medo de se
mover, com medo de respirar – como se qualquer sinal de que ele ainda estivesse
acordado fosse fazer com que eu me aproximasse dele e tentasse convencê-lo de querer isso, de me querer. Ele não me queria.
O meu coração ficou dolorosamente apertado em meu peito,
e eu pressionei as pontas de meus dedos com força sobre a pele, massageando-a
enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas.
Eu lembrava de uma época em que imaginá-lo recusando
sexo era cômico. Era difícil para mim acompanhar seu desejo. Mas o tempo mudou
tudo. Mudou a mim, a ele, e o modo como ficávamos juntos. Mudou nossas circunstâncias,
nossos futuros e muito mais. O tempo criou quilômetros de distância entre nós
rapidamente, mas estava demorando para nos aproximar de novo. Eu nem sei se poderia.
Quando a respiração de Cameron ficou mais lenta e um
suave ronco me avisou que ele estava dormindo, eu deslizei para fora dos
lençóis e fui para o banheiro mais uma vez. Eu fechei a porta atrás de mim
silenciosamente, trancando-a, e inclinando-me contra ela com um suspiro. As
lágrimas com que estive lutando caíram em perfeita simetria com o fechar de
meus olhos, mas eu as enxuguei rapidamente, atravessando o belo chão perolado
para tomar um banho quente.
A minha mente peregrinava enquanto eu me sentava na
beirada da banheira observando a água correr, meus dedos dançando
preguiçosamente nela. Eu gostava do modo como ela borbulhava ao redor da ponta
de meus dedos se eu os pressionasse o suficiente, sem deixa-los afundar.
E assim que meus olhos perderam o foco, as lembranças me
invadiram.
Cameron e eu naquela noite após a fogueira – as bolhas
no banho e em nosso champanhe também. Eu ouvi sua risada como se fosse minha
própria voz, senti suas mãos como se elas nunca tivessem se afastado, vi seus
olhos e o jeito como eles me adoravam, como se fossem uma marca permanente em
minha memória.
Mas eles não eram.
Tudo isso desapareceu, e a culpa era minha.
Quando a banheira estava cheia, eu fechei a torneira e
me afundei lentamente nela. A banheira era ampla e funda, exatamente como eu
sempre quis – uma que pudesse cobrir cada parte minha. Meu pescoço e cabeça era
as únicas coisas expostas, e eu me inclinei contra a porcelana, meus olhos
vagando pelo teto antes de serem fechados.
A princípio, eu não pensei em nada além de como era boa
a sensação da água quente enquanto me aquecia. Era bom existir em um momento
delicioso de calidez, em uma noite tão sombria que me deixou tão fria. Mas
assim que meu corpo se acomodou ao calor, o meu cérebro lentamente retornou à
vida.
Eu pensei em Cameron de novo, mas isso só provocou
aquele zunido dentro do meu peito, por isso afastei os pensamentos rapidamente.
Nada durava por muito tempo antes que eu estivesse pensando em uma outra coisa –
meus planos de aula, o que eu queria fazer no jardim no fim de semana, o que eu
precisava para começar a planejar o evento de arrecadação de fundos de minha
mãe.
E de alguma maneira, antes que me desse conta, eu estava
pensando em Reese. Pensamentos sobre ele me atingiram com rapidez, e assim que
eles me alcançaram, eu me surpreendi. Eu também fiquei
surpresa por ter levado tanto tempo para que isso acontecesse. Algo mudou em
mim naquela noite, parada em frente a cerca que costumava separar nossos lares.
Reese era um pássaro que pousava suavemente nos mares agitados de minha vida,
aparentemente fora de lugar, mas tão confiante e calmo em seu pouso que só
fazia mais sentido a sensação de pertencimento.
Eu sorri tanto em uma única noite, sorri de verdade, que
minhas bochechas doeram. E eu também chorei em seus braços.
Quando sua família foi morta, eu mal contei para
Cameron. Foi logo após nossa própria perda, e eu não sabia como ele iria lidar
com outra. Então, eu chorei por Mallory sozinha, desejei estar com Reese, sabendo
que não havia nada que eu pudesse dizer para melhorar as coisas.
Eu sabia, porque não havia palavras que poderia curar
uma perda como aquela. Havia apenas o tempo, e ele não se apressava por todos. Quase
doía mais o fato de que Reese não jogava isso na minha cara, que ele não me
culpava por não tê-lo procurado. Eu não mantive contato com Mallory nem mesmo
antes de sua morte. Eu me senti magoada por ela ir embora de Mount Lebanon. Ela
era dois anos mais velha do que eu, e essa foi a única vez em nossa amizade que
vi nossa diferença de idade como um problema. Ela estava indo embora, Reese
também, e eu tinha que ficar para terminar o ensino médio sem os meus dois
melhores amigos. Só quando eu conheci Cameron que eu comecei a me abrir para
outra pessoa novamente.
Eu chorei nos braços de Reese pensando em Mallory, em
seus pais, mas em algum lugar no caminho, eu comecei a chorar por algo mais. Era
algo que eu não conseguia identificar – não até que eu estivesse sozinha.
Foi aí que eu finalmente percebi. Uma parte de mim só
estava chorando pela maneira como eu me senti sendo abraçada. Eu tinha quase
esquecido. O modo como seus braços tinham me envolvido, o conforto
que tinham trazido, e a maneira como os olhos dele tinham encontrado os meus
quando ele me afastou – tudo isso me deixou sem ar. Reese não era o mesmo
garoto que partiu há catorze anos. Ele estava mais velho agora, seu cabelo mais
longo, seu peito mais largo, os músculos em seus braços mais acentuados. Ainda assim,
só de estar perto dele me levou de volta para a garota de dezesseis anos que eu
fui, para uma época em que o mundo parecia cheio de felicidade e possibilidades
infinitas a serem descobertas.
Antes que água ficasse gelada, eu coloquei a mão
entre minhas coxas tensas para aliviar a dor. Eu sabia que não poderia dormir
até encontrar o que estava procurando tão desesperadamente naquela noite.
Então eu me esforcei para encontrar alívio, pensando em
Cameron o tempo todo. Eu pensava em nosso beijo, imaginava como teria sido ter
suas mãos em meu corpo de novo, pensei em como seus músculos quentes ficariam
sobre minhas mãos divagantes.
Antes de eu encontrar alívio, outro homem surgiu em meus
pensamentos por um breve segundo. Foi apenas um lampejo, um momento que me
deixou tonta, e quando meu orgasmo enfraqueceu e minha respiração voltou ao
normal, a imagem desapareceu e a culpa tomou seu lugar. Eu corei, minhas mãos
correndo sobre meus cabelos molhados enquanto eu balançava a cabeça sem
acreditar.
Foi apenas o álcool, eu disse para mim mesma. Eu não
conseguia nem ter certeza se eu o tinha imaginado, a impressão sumindo
rapidamente como areia sendo lavada pelo mar. Eu olhei para a tranquila margem
de minha mente, desejando que ela me mostrasse algo, qualquer coisa, mas ela
estava cansada, assim como eu.
Os meus olhos se moveram para o teto, e eu os mantive
lá, imaginando quem eu era. Pensando se eu era alguém. Depois eu mergulhei mais
e mais, prendendo a respiração no momento em que a água quente cobriu meu
nariz. Eu a deixei lavar meu pecado como se ele nunca tivesse acontecido.
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